A última partida
Num momento melancólico, recordo os tempos da minha juventude, quando o futebol era mais do que um jogo e ia além da celebração da amizade. O alcatrão testemunhou risos, rivalidades e sonhos partilhados entre amigos de longa data.
Mas, como as estações implacáveis, a vida passou-me diante dos olhos. O peso das responsabilidades e a velocidade do tempo obscureceram o campo e a sede pelo jogo. Nesta encruzilhada, percebi que não conseguia recordar quando foi a última vez que corri, chutei uma bola e senti a liberdade simples de ser jovem.
Cada lembrança torna-se um campo de futebol abandonado, marcado pela ausência dos amigos que seguiram diferentes caminhos. A nostalgia envolve-se como uma brisa suave, onde desesperadamente procuro recuperar os momentos perdidos. A saudade daquele último jogo, o grito, a alegria e os festejos dos golos consome-me.
No crepúsculo da vida, percebo que, embora o tempo tenha roubado o físico ágil, o espírito do jogo permanece intocado. A súplica silenciosa por uma última partida ressoa no meu coração, pois compreendo que nunca é tarde demais para reacender o brilho da paixão perdida.
Calcemos as chuteiras, sintamos o calor do alcatrão sob os pés e demos asas aos dribles que o tempo tentou roubar. Cada passo e cada corrida, são uma rebelião contra a inevitabilidade do envelhecimento. No retorno ao campo, a alma reencontrará aquele jovem perdido, e a partida de futebol será mais do que um jogo; será uma celebração de resiliência, do amor pelo jogo e da busca eterna pela alegria que só uma bola nos pés pode proporcionar.