Assim nasceu a "trivela"
Ricardo Quaresma aproveitou uma fase menos boa da sua vida, para aprimorar o recorte técnico que ficaria para sempre associado à sua carreira: a trivela.
Trivela. Substantivo feminino. No dicionário, a palavra é descrita como um “pontapé dado na bola com a parte exterior do pé, para criar um efeito de rotação.”
A definição coincide com a explicação do físico Carlos Fiolhais, mas a origem desta palavra perde-se no tempo. Apesar da explicação mais comum, falar do uso de três dedos exteriores para pontapear a bola, para Salvato Trigo, linguista, esta não é a mais certa. "A explicação que me parece mais plausível para a utilização da palavra 'trivela' é relacioná-la diretamente com tri-velocidade. 'Trivela' seria uma espécie de acrónimo de trivelocidade, um fenómeno da física”, explica o especialista, que é reitor da Universidade Fernando Pessoa.
Falar de Ricardo Quaresma é relembrar os imensos golos e assistências, com a parte de fora do seu pé direito. O gesto técnico ficou celebremente conhecido por “trivela” e teve como principal precursor em Portugal Ljubinko Drulović, ex-jogador do FC Porto e do Sport Lisboa e Benfica.
Alguma vez interrogou-se da razão, por detrás do uso desta técnica? O que levou Quaresma a adoptar o gesto técnico e a tornar-se o “Rei das Trivelas”? No Web Summit de 2020, o ex-jogador do Vitória SC (atualmente sem clube) falou sobre a origem da famosa “trivela”, que celebrizou-o desde tenra idade. O internacional português de 39 anos, começou a aperfeiçoar a técnica durante o processo de formação, realizado maioritariamente no Sporting, devido a um problema congénito nos pés, que seriam segundo o próprio, demasiado voltados "para dentro".
"Precisava de um tratamento, mas era difícil para os meus pais andarem comigo na fisioterapia. Comecei a aproveitar essa parte de fora [do pé] para fazer as jogadas, os remates e os cruzamentos (...). Houve um treinador, quando já era juvenil no Sporting, que me mandou sair do treino, mas depois acabou por perceber que era algo que já vinha comigo", contou o jogador.
Para a história ficaram golos de levantar estádios, como o golo no Estádio José de Alvalade diante a Bélgica em 2007, ou até mesmo frente ao Irão no Mundial de 2018 na Rússia. Por onde passou foi Mustang e Harry Potter, um extremo desequilibrador sem as amarras de qualquer sistema tático, que detinha na parte de fora do seu pé direito, a varinha de condão para espalhar magia. Um dos melhores extremos da história do futebol português.