Depois da glória, o que fica?
Depois da festa, do fogo de artifício no céu e das bandeiras nas janelas, chega o momento mais difícil: pensar. Refletir. Perguntar, em silêncio ou em voz alta, e agora? Depois da glória, o que fica mesmo? Portugal venceu. Somos campeões da Liga das Nações, vencemos a Espanha com eficácia e maturidade. Há mérito, claro que há. Há talento em campo como nunca tivemos, uma geração cheia de nomes maiores do futebol europeu. Mas por entre os aplausos e as celebrações, há uma sombra que não desaparece: o que é, de facto, esta Seleção sob o comando de Roberto Martínez?
Chegou com currículo, com ideias, com discurso. E também com um rótulo de promessas por cumprir, a Bélgica dourada que nunca foi além do quase. Em Portugal, encontrou um grupo com profundidade, experiência e fome de vencer. E sim, venceu. Mas... convenceu?
O modelo de jogo é funcional, sem dúvida. A posse controlada, o jogo posicional, a solidez defensiva, tudo bem desenhado no papel. Mas às vezes falta alma, falta risco, falta aquele rasgo que nos habituou a sonhar. Parece, por vezes, que jogamos com o travão puxado, com medo de falhar, quando temos matéria-prima para muito mais. É difícil criticar quem ganha. Mas o futebol não vive só de resultados. Vive de identidade, de propósito, de evolução. E há quem olhe para esta Seleção e veja mais contenção do que ambição. Mais preocupação em evitar erros do que em criar desequilíbrios. Martínez é competente, sim. Mas será o homem certo para dar o próximo passo? Para transformar esta geração talentosa numa equipa verdadeiramente dominadora? Ou será apenas um gestor de recursos, um bom tradutor de estatísticas, que sabe manter o barco a flutuar, mas não ousa navegar em mar aberto? O tempo dirá. E os desafios maiores também. Porque vencer a Liga das Nações é importante, mas o verdadeiro teste está nos Europeus, nos Mundiais, nos jogos em que não basta controlar, é preciso inspirar.
Depois da glória, o que fica? Fica o título, claro. Fica o orgulho. Mas também ficam as perguntas. Fica o debate. Fica a dúvida saudável que nos obriga a querer mais, a exigir mais. Porque só assim se constrói um futuro maior do que o presente. E o futuro da Seleção Portuguesa merece essa ambição.