Derrota amarga, futuro em aberto
A final da Liga Europa perdida diante do Tottenham marcou, de forma simbólica, o culminar de uma época agridoce para Ruben Amorim ao comando do Manchester United. Se, por um lado, é inegável que houve momentos de qualidade e uma tentativa clara de imprimir identidade ao jogo da equipa, por outro, esta época fica manchada pela inconsistência exibicional, por decisões tácticas questionáveis e, claro, pela incapacidade de conquistar um troféu, algo que, num clube com a dimensão e exigência do United, é sempre um fator decisivo.
A derrota na final não pode ser analisada de forma isolada. Foi o espelho de um problema mais profundo, uma equipa que, embora ambiciosa, muitas vezes pareceu partida entre ideias que não se consolidaram no relvado. A pressão alta de Amorim, a construção desde trás e a aposta na juventude revelaram potencial, mas também fragilidades, especialmente frente a equipas bem organizadas. A transição defensiva, por exemplo, foi um dos calcanhares de Aquiles ao longo da época. As linhas demasiado afastadas, a falta de agressividade nos duelos e a má leitura de momentos de jogo deixaram a equipa vulnerável, algo que se tornou evidente na final europeia.
No entanto, importa sublinhar que Amorim herdou um plantel desequilibrado, com várias lacunas estruturais, especialmente na defesa e nas alas. É injusto exigir resultados imediatos a um treinador que está a tentar reconstruir uma identidade perdida desde os tempos de Ferguson. Ainda assim, a crítica mais justa a Amorim reside talvez na sua teimosia táctica. Insistiu em ideias que, por vezes, não estavam adaptadas à realidade da Premier League e ao perfil dos jogadores à sua disposição. Dito isto, deve-se dar uma segunda vida a Ruben Amorim? Sim, mas com certas condições. O treinador português merece mais uma época para mostrar do que é realmente capaz, agora com uma pré-época completa, com reforços escolhidos por si e com uma direção que o apoie de forma clara e coesa. O futebol moderno castiga rapidamente, mas também recompensa quem aposta na estabilidade e na visão a longo prazo. Amorim tem provas dadas em Portugal e demonstrou, mesmo com falhas, que tem ideias modernas e coragem para apostar nos jovens.
A próxima temporada deve trazer alterações cirúrgicas. Um reforço evidente na defesa, mais soluções ofensivas nas alas e, acima de tudo, maior maturidade táctica. Amorim precisa de mostrar flexibilidade e pragmatismo, algo que por vezes faltou. A Premier League não perdoa romantismos tácticos, é necessário saber adaptar-se aos contextos, aos adversários e aos momentos.
Fazendo uma retrospectiva, a época de Ruben Amorim no Manchester United ficou aquém das expectativas, mas mostrou vislumbres de um futuro promissor. A final perdida é um sinal de alerta, não uma sentença. Com autocrítica, correções e apoio, o treinador português pode ainda reescrever esta história e talvez, um dia, devolver ao United a glória que há tantos anos tarda.