Um dia, o futebol vai acabar.
Talvez não acabe para todos, mas para mim, para ti, para quem nele vive intensamente, esse dia chegará. Será um momento silencioso, talvez imperceptível. A bola que já foi o centro do universo deixará de rolar com a mesma magia, e o coração, que outrora batia acelerado a cada golo, passará a bater num ritmo mais calmo, mais resignado.
Quando o futebol acabar, vou sentir falta do barulho vindo das bancadas e do rugido dos adeptos a explodir de alegria ou desespero. Vou recordar os momentos em que o estádio parecia uma segunda casa, onde cada grito refletia uma expressão de paixão pura e genuína. Onde a emoção partilhada com desconhecidos fazia-nos sentir parte de algo superior, algo que transcende o tempo e o espaço. Sentirei falta do cheiro da relva molhada nas manhãs de domingo, das tardes de sol que ardiam no rosto enquanto os pés, cansados mas teimosos, corriam atrás de uma bola que, por breves momentos, parecia ser o nosso próprio mundo. Aquele toque simples, aquele passe perfeito, o golo impossível. Pequenos instantes que, na verdade, significavam tudo. E mais do que o jogo em si, o que realmente vai doer quando o futebol acabar será a ausência das pessoas que fizeram parte dessa jornada. Os amigos de longa data com quem partilhei vitórias e derrotas. Aquele abraço sentido depois de um golo decisivo, as conversas infinitas sobre táticas e claro, os debates acalorados que pareciam nunca ter fim.
Quando o futebol acabar, restará a saudade dos dias em que acreditávamos que o impossível era possível, dos momentos em que o futebol nos ensinava que a vida, como o jogo, pode mudar num segundo. Que por vezes o mais importante não é ganhar ou perder, mas sim o esforço, a luta, o espírito que nos leva a dar o melhor de nós, em cada jogada, em cada oportunidade.
Um dia, o futebol vai acabar. Mas as memórias que ele deixou, essas, nunca se apagarão. Porque o futebol, mais do que um desporto, foi a tradução das nossas esperanças e dos nossos sonhos. E, mesmo quando o jogo terminar, essa paixão continuará a arder, silenciosa, no coração de quem sempre viveu com ela.